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Um cão chamado Kalev, bem perto do coração
rizzolot
A Torá nos instrui várias leis de respeito e bom tratamento aos animais, com finalidade de nutrir nossa midá (virtude) de compaixão e respeito para com todos os seres. Um exemplo de bondade com os animais foi Nôach, que com seu caráter elevado poupou várias espécies de animais de um tenebroso dilúvio. Mas um animal, em especial pela sua bondade, doçura e fidelidade merece nossa atenção; chama-se cão; em hebraico seu nome é muito mais significativo e interessante, chama-se “Kalev”, e muito embora poucos saibam significa “perto do coração”.
Como poderiam os antigos formuladores da língua, observar desde aquele tempo esta característica? O cão é todo emoção, e dar-lhes o nome exato à sua característica, é reconhecer que sua companhia nos faz senti-lo sempre perto do coração. Tenho profundo respeito e admiração pelos animais, pela resignação deles em servir ao homem, por talvez dentro da lógica de um ser vivo que não mais retornará ao mundo – pois não possuem o que chamamos de neshamá (o nível mais elevado da alma ) – se entregam e acabam se aprisionando, tornando -os reféns do ser humano.
Acredito que o mundo caminha para uma compreensão maior do que representa os animais e seu papel na humanidade, várias são as correntes científicas que ponderam o uso dos animais em experiências em laboratórios, o número de pessoas que evitam ingerir carne como eu, aumentam a cada dia, e as práticas de abate se tornam mais humanas. No judaísmo o abate de animais é algo extremamente sério, e traz nas suas considerações de cunho “casher”, as formas de abate que impõem menor sofrimento a estes seres.
Quando olho para um cão, lembro-me da sempre palavra Kalev, já tive vários cães na minha vida que se chamaram kalev, e outros Dodi (que significa amado em hebraico). Me impressiono com o olhar dos cães guia, que submetem sua visão e sua vida a guiar os cegos e dar-lhes um maior sentido na vida, me emociono em saber que tantos solitários contam com a companhia daqueles que jamais os abandonam, e de nada esperam a não ser um carinho, ou como eu brinco, ” um bifinho”. Dizem os rabinos que o cão é emoção pura, porque o coração está na mesma altura da cabeça, diferente da condição humana, onde a razão (cabeça) está acima do coração.
Certa vez, nos EUA, um cego que caminhava com um labrador cor de mel que o guiava há 8 anos, me disse ao entrar numa livraria, quando percebeu seu cão ser acariciado por mim. ” Já descobri que o senhor gosta de cães, não é?” -, perguntou-me com uma voz rouca e pausada. ” Sim, muito “, – respondi, ” O senhor sabe porque os cães vivem pouco e geralmente morrem antes do dono?”, – me perguntou novamente como que justificasse aquele afago meu. ” Talvez por que assim foram programados”, respondi de forma inocente.” Não, senhor, porque jamais suportariam a dor de saber que seu dono não mais existiria”.
Naquele momento rolou uma lágrima dos meus olhos, e entendi a partir de então, porque em hebraico o cão se chama Kalev, entendi enfim, o quanto é bom sempre ter um amigo perto do coração.
Fernando Rizzolo
Shabat Shalom
Tenha um sábado de paz e uma semana feliz !
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GATOS, História e Religião
"Nada é mais incômodo que o silencioso bastar-se dos gatos, o só pedir a quem amam, e só amar a quem os merece".
Artur da Távola
Espaço dedicado a estes seres especiais e ao meu amado gato Nikolas.
AVISO PARA QUEM VISITAR MINHA CASA:
1- Lembre-se de que os gatos vivem aqui, você não!
2- Se você não quer pêlo de gato em suas roupas, fique longe do sofá.
3- Sim, eles têm alguns hábitos desagradáveis. Eu também, assim como você.E dái?
4- É claro que eles cheiram como gatos.
5- É da natureza deles cheirar você.Sinta-se à vontade para cheirá-los também.
6- Eu gosto deles muito mais do que da maioria das pessoas, se você não quer fazer parte desse grupo de pessoas, respeite-os!!!
7- Para você eles são apenas animais, para mim são filhos pequenos, que andam de quatro e não falam tão claramente. Eu não tenho problema com nenhum desses pontos. E você?
"Quanto mais conheço os homens, mais estimo os animais". Alexandre Herculano
Os Gatos e a Religião
"Os animais dividem conosco o privilégio de terem uma alma". Pitágoras
Muito embora não seja hoje em dia tão difundido, o culto aos animais espalhava-se outrora pelo mundo. Mesmo os deuses que não possuíam forma animal tinham um animal sagrado a eles dedicado, que os simbolizava. Entre estes animais, o gato foi um dos mais adorados, tanto por sua fecundidade quanto por seus hábitos noturnos, que o tornaram o guardião da noite, dos mortos, e dos mistérios da vida e da morte.
Em diversas culturas da Antiguidade, em especial nas culturas orientais, o gato era considerado um guardião das almas dos mortos, detentor dos mistérios da vida e da morte, um condutor que as levava até o outro lado.
Sob esta perspectiva, o gato era adorado como divindade, e reverenciado como animal de grande poder místico.
"O gato imortal existe, em algum mundo intermediário entre a vida e a morte, observando e esperando, passivo até o momento em que o espírito humano se torna livre. Então, e somente então, ele irá liderar a alma até seu repouso final."
( The Mythology Of Cats, Gerald & Loretta Hausman )
O Culto Egípcio
No Egito dos faraós, o gato era adorado na figura da deusa Bastet, representada comumente com corpo de mulher e cabeça de gata ou em forma de uma gata preta. Esta bela deusa era o símbolo da luz, do calor e da energia. Era também o símbolo da lua, e acreditava-se que tinha o poder de fertilizar a terra e os homens, curar doenças e conduzir as almas dos mortos. Nesta época, os gatos eram considerados guardiões do outro mundo, e eram comuns em muitos amuletos.
O Gato na Grécia
Na Grécia clássica, o gato foi associado à feminilidade, ao amor e ao prazer sexual, atributos de Afrodite. Também foi associado à Artemis, a deusa da caça e da lua, da qual se dizia que teria escapado um perseguidor, Tiphon, transformada em gata.
O Culto em Roma
No Império Romano, o gato esteve ligado a várias deusas. Diana, a caçadora, governava a fecundidade e a lua, assim como Bastet, e uma lenda antiga atribui a ela a criação do gato. Também a sensual Vênus é representada como uma gata, uma encarnação de emoções maternas.
O Gato na Babilônia
Apesar de não haver culto ao gato, dizia um mito que o gato teria nascido do espirro de um leão. O leão, aliás, era um símbolo da realeza.
O Gato na América Pré-Colombiana
Na América, embora não houvessem gatos domésticos, os grandes felinos, como o puma e o jaguar, tiveram seu lugar no panteão dos deuses. O jaguar era símbolo de grande força e sabedoria, e acreditava-se que os curandeiros mortos transformassem-se neste animal.
O Culto Celta
Na cultura celta, a deusa Cerridwen tem um elo de ligação com o culto ao gato relativo à fecundidade através de seu filho Taliesin, que em uma de suas encarnações foi descrito como um gato com a cabeça sarapintada.
O Culto Escandinavo
Nas lendas nórdicas, aparece a deusa do submundo Freya, cuja carruagem era puxada por dois gatos, que representavam as qualidades da deusa, a fecundidade e a ferocidade. Estes gatos mostravam bem as facetas do gato doméstico, ao mesmo tempo afetuoso e terno, e feroz quando excitado. Os templos pagãos eram freqüentemente adornados com imagens de gatos. Na Finlândia, havia a crença em um trenó puxado por gatos que levava as almas dos mortos.
O Gato no Islã
Há uma série de contos associando os gatos ao profeta Maomé, a quem teriam inclusive salvo da morte, ao matar uma serpente que o atacava. Por causa desta associação entre o gato e o Islã, a Igreja Católica conseguiu tanto êxito ao relacionar o culto ao gato com as heresias e o demônio.
O Gato no Budismo
Nos cânones originais do budismo, o gato é excluído da lista de animais protegidos, devido ao fato de que, no momento da morte de Buda, quando todos os animais se reuniram para chorar seus restos, o gato haver não só mantido os olhos secos como comido tranqüilamente um rato, provando sua falta de respeito pelo acontecimento solene. Entretanto, apesar da lenda, o gato foi venerado pelos primeiros budistas por seu autodomínio e a tendência à meditação. Na China, estatuetas de gatos eram usadas para expulsar os maus espíritos, e havia dois tipos de gatos, os bons e os maus, que eram facilmente diferenciados porque os maus tinham duas caudas. No Japão, quando um gato morria, era enterrado no templo do dono, e no altar do mesmo era oferecido um gato semelhante, pintado ou esculpido, para garantir ao dono tranquilidade e boa sorte durante sua vida.
O Gato e o Judaísmo
No Talmude, o gato só aparece cerca de 500 d.C., quando o livro sagrado louva brevemente seu asseio. Entretanto, uma antiga lenda hebraica conta que o gato teria sido criado em plena Arca, quando Noé, em desespero porque os ratos estavam se multiplicando e devorando todas as provisões, implorou à Deus que lhe enviasse uma solução. O gato então teria sido criado de um sopro do leão. Outra antiga lenda judaico-espanhola diz que Lilith, a primeira mulher de Adão, o teria deixado para se transformar em um vampiro, que sob o aspecto de um gato preto, atacava bebês adormecidos e indefesos e lhes sugava o sangue.
O Gato e o Cristianismo
A Igreja , no início de sua história, adotou alguns símbolos pagãos e rejeitou outros. Assim, Jesus se tornou "O Leão de Judá", e a serpente a égide do mal.
Na seita dos coptas, surgida por volta do século I d.C., havia no evangelho gatos que julgavam os homens após a morte.A primitiva Igreja celta associou vários santos às tradições pagãs e ao culto ao gato.
Santa Gertrudes de Nivelles, por exemplo, é representada sempre com um gato, e, na França, dizia-se que Santa Ágata transformava-se em um gato enfurecido para punir os infiéis.
Na Idade Média, entretanto, a imagem do gato começou a mudar. No século V, os gnósticos, que atribuíam igual importância a Jesus, Buda e Zoroastro, foram acusados de adorar o demônio na figura de um gato preto.
No ano de 1232, o papa Gregório IX funda a Santa Inquisição, com o intuito de descobrir heréticos que cultuavam o demônio, novamente na figura de um gato preto, macho.
Em 1344, surge na França, o culto de São Vito, em Metz, queimando vivos anualmente 13 gatos em uma gaiola. Quando a Peste Negra atacou a Europa, dizimando quase um terço da população, inicialmente os gatos foram considerados culpados e perseguidos, ordenando-se a sua destruição.
A associação da figura do gato ao culto ao demônio levou inevitavelmente à sua vinculação à feitiçaria e às artes mágicas.
No século XV, na Alemanha, ressurgem cultos pagãos como o da deusa Freya. Em 1484, o Papa Inocêncio VIII difunde a crença de que as feiticeiras veneravam Satanás encarnado em gato. Por toda a Europa, pessoas inocentes foram torturadas em nome de Deus. E, com elas, seus gatos.
Em Ypres, na França, centenas de gatos eram atirados do alto de um campanário em um festival anual. Milhares de gatos foram sacrificados em rituais durante a Páscoa. A perseguição chegou até mesmo à América, quando, em 1692, várias pessoas foram executadas em Salem, no estado de Massachusetts. Entretanto, mesmo nestes tempos inglórios, os gatos foram também companheiros amados em alguns países, como na Rússia, onde eram comuns serem encontrados em conventos e mosteiros.
O Cardeal Richelieu possuía vários gatos, entre eles um angorá preto chamado Lúcifer. No sul da França, corria a lenda dos gatos mágicos chamados matagots, que traziam fortuna e sorte a quem os acolhia e amava. Com o passar do tempo, a perseguição foi recrudescendo, e a importância dos gatos como controladores dos roedores foi reconhecido. No século XVIII, são abolidas as leis sobre a feitiçaria, e até mesmo o Papa Pio IX rendeu-se aos seus encantos.
Fonte: Planeta Gato
"O menor dos felinos é uma obra-prima". Leonardo da Vinci
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Estatuto moral dos animais:
visão do Cristianismo
• Apenas o Homem tem estatuto moral, uma vez que possui uma alma imortal e foi criado à imagem de Deus
• “Crescei e multiplicai-vos, e preenchei a terra, e subjugai-a: e dominai os peixes do mar, as aves do céu e todas as criaturas vivas que se movem sobre a terra”
Génesis
• ‘Não matarás’, não o entendemos para as plantas, visto que não têm sensações, Santo Agostinho (354-430)
Estatuto moral dos animais:
a visão instrumentalista de Kant
• “No que concerne aos animais, não temos deveres diretos. Os animais não são auto-conscientes e existem
meramente como meios para um fim. Esse fim é o homem.
(…) Aquele que é cruel para com os animais torna-se também duro nas suas relações com outros homens. (…)
Os bons sentimentos para com os animais irracionais desenvolvem sentimentos humanitários para com a
humanidade. (…) Os nossos deveres para com os animais são meros deveres indirectos para com a humanidade”
Immanuel Kant [1724-1804]
Estatuto moral dos animais:
Jeremy Bentham e o utilitarismo
• Utilitarismo - aproximação consequencialista da ética, que não parte de regras, mas do objectivo de maximizar a felicidade de todos os envolvidos, e de minimizar a sua infelicidade ou sofrimento. Uma certa ação poderá ser boa ou má, dependendo das circunstâncias e das consequências.
• “Talvez chegue o dia em que a restante da criação animal venha a adquirir aqueles direitos de que só puderam ser privados pela mão da tirania. (…) Que outra coisa poderia traçar uma linha insuperável?
Será a faculdade da razão, ou talvez a faculdade do discurso? Mas um cavalo ou cão adulto é sem comparação um animal mais racional, bem como mais sociável, que uma criança de um dia, de uma semana
ou mesmo de um mês de idade. Mas supondo que não o fossem, que implicaria isso? A questão não é, Podem raciocinar? nem Podemfalar? mas, Podem sofrer?”
Jeremy Bentham [1748-1832]
Estatuto moral dos animais:
Peter Singer e o bem estar animal
• 1975 - “Animal Liberation: a New Ethics for our Treatment of Animals”
• Produção animal para consumo humano é aceitável se for assegurado que os animais têm boas condições de vida (sem sofrimento, sem stress) e que são abatidos com humanidade
• A experimentação animal é aceitável se os benefícios (para Humanos e/ou animais) superarem os custos a que os animais experimentais são expostos
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